1.3 Mestrado/Doutorado
– Boston University
Quando escolhi cursar o Bacharelado em
Antropologia, sabia que estava optando por uma carreira acadêmica, para o que
seria necessário fazer o doutorado. Nos Estados Unidos existia a possibilidade
de se ir direto do Bacharelado para um Curso de Doutorado, o título de mestre
sendo conquistado no caminho. Com isso em mente, me preparei para me submeter
aos exames do GRE, algo semelhante ao ENEM para quem quer cursar pós-graduação.
Depois, me inscrevi e fui aceita nos programas de doutorado em Antropologia da
University of Illinois, American University, University of Florida, University
of Texas, Brown University e Boston University. Optei por esta última por me
oferecer bolsa de estudos e a possibilidade de dar continuidade aos estudos
iniciados em Provincetown, com a população de origem portuguesa na Nova
Inglaterra, e de trabalhar com o Prof. Dr. Anthony Leeds, que havia realizado
pesquisas no Brasil e com imigrantes portugueses também.[1]
Além do mais, a Boston University não só era a ‘alma mater’ do Dr. Martin
Luther King, que ali obtivera seu título de Doutor em Teologia, como também uma
das universidades com um corpo estudantil dos mais atuantes durante os anos
1970,[2]
tornando-a ainda mais atraente para uma ativista como eu. Sem esquecer que
Boston era – e ainda é – um dos mais importantes centros acadêmicos da costa
leste, contando com universidades famosas, tal como, Harvard, Massachussets
Institute of Technology – MIT, Tufts, Brandeis, Boston College dentre outras,
além da Boston University.
Fui para Boston com o coração pulando, cheia
de energia para estudar, estudar, estudar e terminar logo meu curso. Mas, como
se verá adiante, também no meu curso de pós-graduação enfrentei duas longas
interrupções, razão pela qual, para melhor contextualizar as minhas idas e
vindas, elaborei uma periodização dos
meus três momentos passados lá.
Boston University, 1970s
1.3.1
Boston University 1977-1981 – Primeiros Momentos
Mudei-me para Boston no final de maio/1977, carregando
todos meus pertences em um caminhão U-Haul, tal qual o que ajudei minha professora
e amiga, Brett Williams, a dirigir para Washington. Na mudança para Boston, porém,
meu amigo Ken, marido de minha colega e amigona Rose, dividiu a direção comigo.
Ken era das Ilhas Fiji e nunca tinha ida para a costa leste. Topou ir comigo me
ajudar na mudança e a me instalar em Boston em troca do bilhete de volta e de
um lugar para ficar e conhecer Boston.
Nessas situações de mudança, é sempre bom poder contar com amigos. Além de Rose e Ken e Jenna, minha ‘roomate’ em Normal, Illinois, tive ainda o apoio de Michael Lieber, em Boston, que havia sido professor da Boston University e conseguiu um quarto na casa/comuna em Wellesley, onde vivia com sua companheira, para que eu pudesse ficar até conseguir um lugar para morar. E ainda contei com a ajuda de Arthur Victor, que eu conhecera antes em Provincetown; ele descobriu para mim o apartamento em Brighton, bem em frente a uma Sinagoga (que ele frequentava), para onde me mudei. Na esquina, havia um armazém-lanchonete de propriedade de um cubano que também acabou se tornando um amigo, com quem eu praticava meu ‘portanhol’.
Eu, em 1977, pouco antes de mudar para Boston
Nessas situações de mudança, é sempre bom poder contar com amigos. Além de Rose e Ken e Jenna, minha ‘roomate’ em Normal, Illinois, tive ainda o apoio de Michael Lieber, em Boston, que havia sido professor da Boston University e conseguiu um quarto na casa/comuna em Wellesley, onde vivia com sua companheira, para que eu pudesse ficar até conseguir um lugar para morar. E ainda contei com a ajuda de Arthur Victor, que eu conhecera antes em Provincetown; ele descobriu para mim o apartamento em Brighton, bem em frente a uma Sinagoga (que ele frequentava), para onde me mudei. Na esquina, havia um armazém-lanchonete de propriedade de um cubano que também acabou se tornando um amigo, com quem eu praticava meu ‘portanhol’.
Ciente de que a bolsa da BU só começaria a ser paga no final de setembro, com o início das aulas e que até lá eu precisaria de algum meio de sobrevivência, saí a cata de um emprego. Tive sorte em logo conseguir uma colocação como secretária da diretora da biblioteca do Emerson College, na Berkeley Street, bem nas redondezas de onde explodiram as duas bombas durante a maratona de 2013. Em maio de 1977, quando cheguei a Boston, porém, ali era um lugar tranquilo! Perto da Copley Square, do Boston Commons ou e do Gardens, Arlington Street, onde eu costumava ir almoçar com colegas, degustando deliciosos ‘meatball subs’ que comprávamos em Beacon Hill.[3] Que saudades!
Emerson College, Boston
Devo confessar que esses primeiros meses em Boston foram um marco importante em minha vida: além de Boston ter sido a primeira cidade na qual fui morar por minha própria escolha, essa foi a primeira vez em que morei sozinha e me tornei dona de meu próprio nariz. Foi um momento importante para mim do feminismo como vivência, tal como nas palavras de Margareth Rago (2013, p.28) quando afirma que os feminismos podem ser considerados:
“[...] como
linguagens que não se restringem aos movimentos organizados que se
autodenominam feministas, mas que se referem a práticas sociais, culturais,
políticas e linguísticas, que atuam no sentido de libertar as mulheres de uma
cultura misógina e da imposição de um modo de ser ditado pela lógica masculina
nos marcos da heterossexualidade compulsória.”
De fato, como a mesma autora acrescenta
adiante, “[...] transformação social implica não só em um projeto político, mas
também transformar um estilo de vida, ou “estética da existência”, criada na
experiência individual e social” (2013, p.49). Posso então dizer que nesses
meus primeiros meses em Boston comecei a mudar minha ‘estética de existência’.
Por isso mesmo, na época, achei importante registrar essa experiência em um dos
primeiros trabalhos que elaborei no meu curso de pós-graduação na BU,
intitulado “Impressionism and Impressions on Getting to Know Boston”
(SARDENBERG, 1977c),[4]
onde assim afirmei:
Como se poderia esperar, o trabalho ficou
ensaístico demais, ou autobiográfico demais, para ser considerado então um
trabalho acadêmico, tal qual observou a Profa. Eva Hunt ao avalia-lo.[5]
Minha turma no doutorado da BU era pequena –
éramos apenas quatro mulheres, Terry Childs, Pamela Sankar, Sylvia dos Reis Maia
e eu - e nos tornamos bastante próximas, trabalhando sempre juntas, na medida
do possível. Tínhamos uma carga horária de leitura e de elaboração de trabalhos
semanal bem pesada no primeiro ano na disciplina ‘Proseminar’, ministrada com
muita garra pela Dra. Eva Hunt, mesmo estando ela já bastante debilitada por
conta de um câncer que avançava a passos largos.
Embora eu fora para a BU para ser orientada
pelo Prof. Anthony Leeds, ele se encontrava fora de Boston nesse meu primeiro
ano por lá, razão pela qual, por sua indicação, fiquei sob a orientação da
Profa. Eva Hunt nesse período. Tive, assim, o privilégio de ser aluna de Eva
Hunt e testemunhar, de perto, seu brilhantismo. Tenho muito orgulho de ter
tirado boas notas nas quatro disciplinas que cursei sob a sua batuta
(‘Proseminar’ I e II, ‘Field Techniques in Anthropology’, e ‘Kinship
Analysis’). E jamais poderei esquecer a sua tenacidade durante os meses finais
da doença. Mesmo acamada e medicada por
opiáceos que lhe deixavam entorpecida e, com minha filha, Marina, então
bebezinha, deitada a seu lado, ela me ditou um trabalho – seu último trabalho –
que seria apresentado à Universidade de Chicago, onde obtivera, décadas antes,
o título de Doutora.
Com o falecimento da Profa. Dra. Eva Hunt em
dezembro, de 1979, passei a ser orientada pelo Professor Anthony Leeds, que já
havia retornado da licença sabática em Portugal meses antes, mas soube bem
entender que eu não poderia me afastar da Profa. Hunt em um momento tão
delicado. ‘Tony’, como era informalmente chamado, realizou seu trabalho de
campo para a tese em Uruçuca, Bahia, nos anos 1950, e era muito ligado ao
Brasil e aos brasileiros. Era uma pessoa muito especial e atenciosa com seus
orientandos e orientandas, chegando a ir me buscar no aeroporto quando voltei a
Boston, nos anos 1980, com meus filhos pequenos, para dar continuidade a meus
estudos. Todas as quintas-feiras, Tony e sua esposa Liz Leeds, que também fez
trabalho de campo no Brasil, nas favelas do Rio de Janeiro, reuniam em sua
imensa casa em Dedham, pesquisadores, professores e estudantes para um jantar –
cada pessoa levava um prato – seguido de apresentações de trabalhos para
discussão. Tive a sorte de poder participar de vários desses jantares e de me
apropriar desse costume: faço esse tipo de reunião com minhas orientandas
sempre que possível![6]
Em fins dos anos 1970, início dos anos 1980,
havia na BU um núcleo de professoras feministas, algumas delas inclusive no
Departamento de Antropologia – Susan Brown, Maureen Giovaninni e Jane Guyer –
das quais tive o prazer de ser aluna e também assistente de pesquisa (Maureen Giovaninni)
e trabalhar como monitora (‘Teaching Fellow’) na disciplina “Female
Perspectives in the Study of Cultures” (Susan Brown e Maureen Giovaninni). Sob
a coordenação de Susan Brown, Pamela Sankar,
algumas outras colegas da BU e demais universidades de Boston e eu,
organizamos o coletivo responsável pela publicação da ‘National Conference for
Women in Anthropology Newsletter’, o Boletim da Conferência Nacional de
Mulheres na Antropologia, rede articulada por Eleanor Leacock, em New York, que
mais tarde daria lugar à Association for Feminist Anthropology da American
Association of Anthropology. Foi nesse boletim que publiquei uma resenha sobre
livros no campo da Antropologia da Mulher, sob o título: “A critical review
of Murphy and Murphy’s Women of the Forest and Wolff’s Women and the Family in Rural Taiwan”
(SARDENBERG, 1979).[7]
Nessa
época, cursei a disciplina ‘Matrilineal Societies’ com a Profa. Susan Brown,
elaborando como trabalho final um artigo baseado em uma releitura crítica, na
perspectiva feminista, dos trabalhos de Robert Murphy sobre os índios Mundurucu
do Rio Tapajós, que intitulei: “Matrilocality and Patrilineality in Mundurucu
Society: A Reinterpretation” (SARDENBERG, 1978).[8]
Por um bom tempo, fiquei fascinada com a forma de organização social dos
Mundurucu – seu regime ‘disharmônico’ na perspectiva de Lévi-Strauss – a ponto
de pensar em realizar meu trabalho de campo entre esse eles. Na procura por material bibliográfico sobre
os povos da região em questão, me deparei com “O Selvagem e o Inocente”, de
David Mayberry-Lewis (1980). Nesse livro, Mayberry-Lewis relata seu período de
trabalho de campo entre os povos nativos da Região da Amazônia, mencionando os
problemas que ele e sua família enfrentavam com o teto da cabana infestado de
baratas. Foi o que me bastou para mudar de ideia – tenho pavor de baratas,
principalmente se forem voadoras!!!
Cursando a disciplina Antropologia Aplicada (“Applied
Anthropology”), com a Profa. Maureen Giovannini, escrevi um trabalho sobre
cabo-verdianos em Boston, também perdido nessa minha longa caminhada, mas que
serviu de base para um outro trabalho, desta feita para a disciplina
“Proseminar”, cursada com a Profa. Eva Hunt, trabalho este que teve por título:
“Cape Verdean Migration, Strategic Unions, and the Definition of Marriage”
(SARDENBERG, 1978).[9] Fiquei bastante interessada em
seguir trabalhando com a comunidade cabo-verdiana em Boston e com a questão dos
‘casamentos estratégicos’ como problema possível para minha tese doutoral,
começando até mesmo a aprender um pouco de ‘criolo’, o idioma do Cabo
Verde. Mas, com o nascimento de minha
filha e o desejo de todos e todas nós, estudantes de pós-graduação vivendo
então em Boston, de voltarmos para o Brasil com a anistia, acabei abandonando
aquela ideia.
Devo ressaltar que a pesquisa para a realização do referido trabalho só se tornou possível com o apoio de colegas de origem cabo-verdeana, que cursaram a disciplina Applied Anthropology comigo, bem como de Helena, uma cabo-verdeana, minha vizinha, quando residia no Rindge Towers Apartments, em Cambridge, Massachusetts. Tratava-se de um ‘housing development’, ou seja, um complexo residencial para famílias das camadas populares de Boston, sendo ocupado principalmente por negros. Pude assim constatar o racismo institucional contra negros nos Estados Unidos, principalmente por parte da polícia de Boston, com meus próprios olhos. A começar pela presença constante de uma viatura de polícia na porta do prédio em que vivia, com o constante assédio aos moradores. Eu mesma e meu companheiro na época, também brasileiro e aluno de doutorado em Economia na BU, passamos por uma situação bastante assustadora quando, supostamente com base em uma falsa denúncia, policiais invadiram nosso apartamento à procura, até hoje, não sei bem do que. Não respeitaram nem mesmo o fato de eu estar em estado avançado de gravidez da minha filha, Marina, me empurrando nada gentilmente quando abri a porta! Pelo fato de sermos brasileiros e, portanto, latinos, ou seja, não brancos, não se deram ao trabalho de apresentar mandado de busca e apreensão, entrando porta adentro sem pedir licença. Só não fizeram pior por descobrirem que éramos doutorandos na BU – aliás, se assustaram com tal fato - , nos avisando que ali não era um bom lugar de moradia para nós! Nesse caso, parece que o fato de sermos ‘forasteiros dentro’ (outsiders within) nos salvou da brutalidade policial racista de Boston: nem sempre nossos vizinhos tiveram a mesma sorte...
Rindge Tower Apts., Cambridge, MA
Devo ressaltar que a pesquisa para a realização do referido trabalho só se tornou possível com o apoio de colegas de origem cabo-verdeana, que cursaram a disciplina Applied Anthropology comigo, bem como de Helena, uma cabo-verdeana, minha vizinha, quando residia no Rindge Towers Apartments, em Cambridge, Massachusetts. Tratava-se de um ‘housing development’, ou seja, um complexo residencial para famílias das camadas populares de Boston, sendo ocupado principalmente por negros. Pude assim constatar o racismo institucional contra negros nos Estados Unidos, principalmente por parte da polícia de Boston, com meus próprios olhos. A começar pela presença constante de uma viatura de polícia na porta do prédio em que vivia, com o constante assédio aos moradores. Eu mesma e meu companheiro na época, também brasileiro e aluno de doutorado em Economia na BU, passamos por uma situação bastante assustadora quando, supostamente com base em uma falsa denúncia, policiais invadiram nosso apartamento à procura, até hoje, não sei bem do que. Não respeitaram nem mesmo o fato de eu estar em estado avançado de gravidez da minha filha, Marina, me empurrando nada gentilmente quando abri a porta! Pelo fato de sermos brasileiros e, portanto, latinos, ou seja, não brancos, não se deram ao trabalho de apresentar mandado de busca e apreensão, entrando porta adentro sem pedir licença. Só não fizeram pior por descobrirem que éramos doutorandos na BU – aliás, se assustaram com tal fato - , nos avisando que ali não era um bom lugar de moradia para nós! Nesse caso, parece que o fato de sermos ‘forasteiros dentro’ (outsiders within) nos salvou da brutalidade policial racista de Boston: nem sempre nossos vizinhos tiveram a mesma sorte...
Com Marina, minha filhota, e uma amiga em Cambridge, MA
1980
À
bem da verdade, esse meu primeiro período em Boston foi bastante positivo. Além
do nascimento de minha filha, tive o prazer de ter ótimas colegas e ser aluna
de professoras e professores não só
competentes como solidários, a exemplo, de Eva Hunt, Tony Leeds, Susan Brown,
Maureen Giovannini, Jane Guyer e Daniel Mc Call , do Departamento de
Antropologia, Roy Glasgow, do Departmento de História, e Terry Freiberg e Susan Eckstein de Sociologia. Além disso, tive a
oportunidade de assistir a algumas conferências do Prof. Howard Zinn,
historiador conhecido por seus estudos sobre a classe trabalhadora americana e
por ter organizado os famosos ‘sit ins’ e ‘teach ins’ em protesto contra o
envolvimento americano na Guerra do Vietnã.
Aliás, naquela época, na BU, havia um grupo
de professores bastante progressistas, a exemplo do Prof. Zinn, Prof. Leeds,
Profa. Susan Brown e dos Professores Terry Freiberg e Susan Eckstein, esses
dois últimos responsáveis pela coordenação do ‘Summer Seminar in Critical
Social Theory’. Esses seminários anuais reuniam muitos pesquisadores e
estudantes marxistas, como eu, participando de cursos de pensadores de renome
na época. Tive assim a grata oportunidade de ser aluna de Ernest Mandel, Andre
Gunderfrank, Robin Blackburn e Goran Therborn, não me perdoando até hoje por
ter perdido os seminários de Nicos Poulantzas, oferecidos no verão anterior a
minha chegada à BU!
Uma das melhores disciplinas que cursei
durante minha primeira jornada na BU foi ‘Development and Underdevelopment’,
sob a regência da Profa. Susan Eckstein. Essa disciplina congregou boa parte do
pessoal que frequentava os ‘Summer Seminars’, uma turma maravilhosa de
estudantes, que levava os debates da sala de aula para os cafés e bares dos
arredores. Gente com quem até hoje mantenho fortes laços de amizade, a exemplo
de José Sérgio Gabrielli de Azevedo, ex-presidente da Petrobrás e hoje
professor aposentado do Departamento de Economia da Ufba, Brigitta Schultz,
Professora aposentada da University of Maryland e Pamela Sankar, Professora do
Bioética da Universidade da Pennsylvania.
Com esta última, Pamela, que à época era minha colega também no Doutorado em Antropologia, escrevi dois trabalhos para essa disciplina. Um deles, uma bibliografia anotada sobre crítica à Teoria da Dependência (“Dependency Theory: An Annotated Bibliography”), perdeu-se pelo caminho... O outro, “The Sugar Economy in the Brazilian Northeast: Transformations in the Relations of Production, 1888-1964” (SARDENBERG; SANKAR, 1979),[10] acabou sendo desdobrado, posteriormente, em dois trabalhos. Um, lidando com a produção de açúcar sob o regime escravocrata e os primeiros momentos depois do fim da escravidão, ficou sob a responsabilidade de Pamela Sankar. O outro, sob minha responsabilidade, voltou-se para a penetração de relações de produção capitalistas e a luta de classes na economia açucareira. Esse último trabalho, “Class Struggle and the Spread of Capitalist Relations of Production in the Brazilian Northeast” (SARDENBERG, 1980a) foi inicialmente elaborado para a disciplina sobre ‘Gramsci, Althusser, Poulantzas’, oferecida pelo Prof. Dr. Terry Freiberg, sendo também aceita para apresentação no Encontro da Northeastern Anthropological Association, a ser realizado em Amherst, MA, em Abril de 1980.[11]
Minha amiga, Pamela, trançando meus cabelos
no St.Elizabeth's Hospital, em Brighton, logo após o nascimento de Marina (1979)
Com esta última, Pamela, que à época era minha colega também no Doutorado em Antropologia, escrevi dois trabalhos para essa disciplina. Um deles, uma bibliografia anotada sobre crítica à Teoria da Dependência (“Dependency Theory: An Annotated Bibliography”), perdeu-se pelo caminho... O outro, “The Sugar Economy in the Brazilian Northeast: Transformations in the Relations of Production, 1888-1964” (SARDENBERG; SANKAR, 1979),[10] acabou sendo desdobrado, posteriormente, em dois trabalhos. Um, lidando com a produção de açúcar sob o regime escravocrata e os primeiros momentos depois do fim da escravidão, ficou sob a responsabilidade de Pamela Sankar. O outro, sob minha responsabilidade, voltou-se para a penetração de relações de produção capitalistas e a luta de classes na economia açucareira. Esse último trabalho, “Class Struggle and the Spread of Capitalist Relations of Production in the Brazilian Northeast” (SARDENBERG, 1980a) foi inicialmente elaborado para a disciplina sobre ‘Gramsci, Althusser, Poulantzas’, oferecida pelo Prof. Dr. Terry Freiberg, sendo também aceita para apresentação no Encontro da Northeastern Anthropological Association, a ser realizado em Amherst, MA, em Abril de 1980.[11]
A boa receptividade em relação a esse trabalho
me despertou o interesse em desenvolver meu projeto de tese sobre movimentos
sociais no campo, particularmente sobre as ligas camponesas no Nordeste, dentro
da perspectiva da antropologia marxista. Uma viagem de carro visitando vários
lugares no Nordeste, realizada no verão de 1979, aguçou esse meu interesse, com
proposta de realização de trabalho de campo em Pernambuco. Meu exame de
qualificação de doutorado, realizado em maio de 1981, válido também para o
título de Master of Arts in Anthropology,[12]
voltou-se, portanto, para essa temática, tal qual esboçada na bibliografia
submetida à banca na ocasião.[13]
Contudo, por força de motivos familiares,
meus planos de estudar movimentos no campo Pernambuco acabaram nunca sendo
realizados. Meu companheiro, pai de meus filhos, recebeu uma oferta de vir para
o recém-criado Mestrado em Economia da UFBA. Com uma filha ainda bebê, não tive
condições nem de ficar sozinha em Boston, nem de ir sozinha para o campo em
Pernambuco, sobretudo quando veio uma segunda gravidez. Em agosto de 1980,
voltei para o Brasil e vim morar em Salvador. Meu título de mestre foi
concedido precisamente em setembro de 1981, quando nascia meu filho, João. Em
Abril de 1982, me submeti a concurso público para a disciplina Teoria
Antropológica do departamento de antropologia da Ufba, obtendo a
2ª.classificação e sendo contratada como Professora do Departamento de
Antropologia e Etnologia.[14]
[1] Comprovantes no.17
[3] Comprovantes no.18
[5] Comprovante No. 19
[6] Tony e Liz são co-autores do livro A Sociologia Urbana
no Brasil (LEEDS; LEEDS, 2015), recém-lançado.
[7] Comprovante No.20
[8] Comprovante No.21
[9] Comprovante No.22
[10] Comprovante No.23
[11] Comprovante No.24
[12] Comprovante No.25
[13] Comprovante No.26
[14] Comprovante No.27
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